sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O PAPA, A FREIRA E O SÍMBOLO


tribunahoje


O Papa Francisco trouxe brisa amena ao inverno carioca e alívio aos brasileiros. Logo se transformou em unanimidade, rara nos últimos tempos. Com gestos de simpatia, pregação solidária e persuasivas expressões de simplicidade, mobilizou a juventude, aglutinou em torno de si pessoas de todas as idades e revigorou a fé quase esquecida. Alimentada por temas e imagens favoráveis a mídia e o povo esqueceram-se temporariamente as dores para ver Papa passar. Por uma semana foi removida a poeira que cobre as imagens e os ritos religiosos, e muitos se descobriram sensíveis e devotos.

A freira era jovem e passava discreta pela sala de espera do aeroporto. Mal seria notada, não fossem as vestes escuras e pouco habituais. Mas foi o olhar perplexo da criança que distraia a espera brincando, que a destacou. Ao vislumbrar aquele hábito, ativou a singela rede de associações que trazia na mente e misturando encanto e espanto, anunciou: Mãe; olha Deus passando ali!

O símbolo nos ajuda a entender estes fenômenos. A mente tenra e adulta não cessa de criar imagens e fazer ligações que nos transportam para além dos fatos e das coisas concretas. Através do processo de simbolização, realidades imediatas recebem sentidos extraordinários e tornam-se mediadoras de poderosas energias arquetípicas. Tornam-se símbolos os elementos que transformam a energia psíquica de alta voltagem, armazenada em nosso inconsciente, na força que comove a consciência e move processos que nos fascinam e, frequentemente, nos dominam. Assim a imagem da freira representou o mistério que fascina a mente infantil, o papa despertou lembranças do divino e pôs o sagrado, que costuma viver recluso, a peregrinar pela consciência coletiva dos brasileiros.

Amauri Munguba Cardoso


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