sexta-feira, 19 de julho de 2013

EFEITO BORBOLETA


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A Estética do Protesto e a Ética do Processo

O rumor de um grupo transbordou em avalanches de manifestações uma semana depois, assumiu a dimensão de um movimento inesperado e varreu o país. Um verdadeiro efeito borboleta. Por trás dos acontecimentos destacam-se o imponderável poder das mídias sociais, a absoluta e inesperada ausência de liderança, a extensa lista de reivindicações e a estética do protesto.

Não bastasse a beleza da juventude, rostos pintados, frases e cânticos alçados em grupo e as mensagens bem humoradas dos cartazes ajudaram a compor o cenário alegre e encantador, próprio da estética dos protestos. A bem da verdade, nem tudo foi belo. Excluídos os fatos bizarros e as cenas abjetas, resta poesia suficiente para ser contemplada e cuidadosamente armazenada.

Na esteira de episódios históricos e de imagens emblemáticas fixadas na memória, indivíduos formaram multidões, improvisaram caminhos e traçaram rotas para ultrapassar os incômodos e adormecidos sentimentos de insignificância e de nulidade da existência. A moldura ideal para a estética do protesto envolve participação coletiva e a sensação de estar movendo o mundo numa dobradiça do tempo.

Desejos de realização pessoal, anseios de mudança social, insatisfações que desconheciam causas e origem, e não pouca indignação reprimida são ingredientes que temperam a estética do protesto, visível do lado de fora e nem sempre acompanhada por complexas elaborações éticas. Estética se expõe na mesma velocidade que compõe o mote de uma reclamação, a ética se impõe aos poucos com a aclamação de princípios que se submetem e sustentam o coletivo, ao curso de longos processos.

Mudanças saudáveis carecem de fundamentos éticos e de valores, dispensam atalhos, apontam caminhos consequentes, norteiam transformações sociais justas, preservam valores e prezam pela dignidade dos sujeitos. A ética não se limita ao discurso de pretensos autores, destina-se a garantir espaço e oferecer expressão a muitos atores. Clamores estéticos querem o novo e pra já, cabe aos rigores da ética avaliar alternativas e apontar respostas, para além da simples novidade.

Quando crianças, acreditávamos que o belo também deveria ser bom. Depois de adultos descobrimos que o bom nem sempre faz bem, e nos fazem bem elementos que não se apresentam agradáveis. Aprendemos que o cumprimento do dever, a obediência à lei e o respeito ao princípio da autoridade, pessoalmente desagradáveis desde o primeiro instante, são imprescindíveis para o bem coletivo e duradouro.

É natural que todos almejem o belo, sintam-se confortáveis no cosmos e deslocados no caos. Mas a harmonia social não se estabelece ao acaso, envolve respeito às regras e reconhecimento ao direito dos outros. Atos de indivíduos e grupos compõem uma estética admirável quando ajudam a conservar em ordem a casa maior que nos acolhe e nos compete manter habitável.

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